A inelegibilidade de líderes políticos como Jair Bolsonaro (PL), Ivo Cassol (Progressistas) e Acir Gurgacz (PDT) escancara uma das características mais marcantes da política brasileira: a capacidade de se reinventar, mesmo diante de barreiras legais aparentemente definitivas. Impedidos de disputar eleições, esses nomes não só permanecem relevantes, mas também moldam o jogo político, seja como articuladores de bastidores, seja como símbolos de resistência para seus eleitorados.
No caso de Jair Bolsonaro, declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder político, sua figura continua sendo central na agenda de muitos aliados. Senadores como Marcos Rogério e Jaime Bagattoli, além do deputado federal Coronel Chrisóstomo, reforçam constantemente a ideia de um possível retorno em 2026. Porém, na prática, a decisão do TSE é clara, e as possibilidades de reversão a curto prazo são mínimas. A narrativa de “vitimização política”, entretanto, mantém Bolsonaro como uma referência para a base conservadora, polarizando o debate público.
Ivo Cassol, por sua vez, enfrenta um desafio diferente. Enquanto Bolsonaro conta com um eleitorado nacional, Cassol concentra seu apoio em Rondônia, onde construiu uma carreira marcada tanto por controvérsias quanto por popularidade. Após ser impedido de disputar as eleições de 2022, ele adotou uma estratégia de sobrevivência política: permanece ativo na mídia e atua como dirigente partidário, moldando o Progressistas e mantendo sua base engajada. Seu histórico de embates jurídicos, que remonta a seus tempos como prefeito de Rolim de Moura, ainda o assombra, mas não diminui sua determinação em buscar uma reviravolta.
Acir Gurgacz, por outro lado, segue um caminho mais discreto. O ex-senador parece menos preocupado em manter uma presença constante nos holofotes e mais focado na formação de novas lideranças. Seu apoio a Célio Lopes, que surpreendeu ao alcançar o terceiro lugar na disputa pela prefeitura de Porto Velho em 2024, demonstra uma visão estratégica voltada para o fortalecimento do PDT em Rondônia. Enquanto Cassol e Bolsonaro apostam em narrativas pessoais, Gurgacz investe no capital político de novos nomes, uma estratégia que pode render frutos a longo prazo.
A atuação desses líderes inelegíveis aponta para uma questão maior: como a política brasileira permite que figuras juridicamente impedidas continuem a exercer influência significativa.Essa dinâmica não é exclusiva do Brasil. Em outros países, como a Itália, Silvio Berlusconi, falecido em 2023, também enfrentou barreiras legais enquanto mantinha relevância política durante sua carreira. No entanto, a capacidade de mobilização e a conexão emocional com o eleitorado fazem do contexto brasileiro algo singular, especialmente em um ambiente político tão polarizado.
Além disso, as estratégias desses líderes evidenciam uma desconexão entre o sistema jurídico e a percepção pública. Enquanto as decisões da Justiça Eleitoral buscam estabelecer padrões éticos e democráticos, muitos eleitores continuam a ver esses políticos como legítimos representantes, independentemente de suas inelegibilidades. Essa desconexão é agravada pela falta de clareza no discurso midiático, que frequentemente omite ou dilui as restrições legais enfrentadas por esses nomes.
Enquanto aguardam possíveis desfechos jurídicos que possam restaurar suas elegibilidades, Bolsonaro, Cassol e Gurgacz adaptam suas estratégias para continuar relevantes. Seja pela manutenção de suas imagens, pela mobilização de suas bases ou pela preparação de sucessores, esses líderes exemplificam como a política brasileira opera em constante reinvenção. Mais do que figuras isoladas, eles simbolizam um sistema em que barreiras legais são vistas menos como fins e mais como desafios a serem contornados. No fim, o jogo político segue, e suas regras continuam sendo moldadas tanto pela Justiça quanto pela habilidade de seus jogadores.