O governador Marcos Rocha voltou a Rondônia na última sexta-feira, após dias recluso em um bunker em Israel, por conta dos ataques do Irã. Mas se escapou de mísseis no Oriente Médio, encontrou por aqui uma guerra política instalada — e o epicentro dela está dentro do seu próprio governo.
Antes mesmo de pisar novamente em solo rondoniense, Rocha já era alvo de polêmica. Segundo dados do Portal da Transparência, sua gestão já acumulou mais de R$ 4 milhões em gastos com diárias, e sua ausência prolongada no exterior foi amplamente criticada. O apelido que ganhou nas redes sociais, “Governador EAD”, surgiu logo após o envio à Assembleia Legislativa de um projeto que limitava as atribuições do vice-governador, Sérgio Gonçalves — mesmo com este presente no Estado durante toda a viagem de Rocha.
Mas o desgaste institucional não para por aí. O racha dentro do governo ficou ainda mais evidente após a coletiva de imprensa do ex-chefe da Casa Civil, Júnior Gonçalves. Ex-aliado de Rocha e figura forte no primeiro escalão, Júnior declarou que todas as ações que tomava enquanto ocupava o cargo eram feitas com o conhecimento do governador e da primeira-dama, Luana Rocha. E foi além: ao comentar notícias de que estaria na mira de investigações, sugeriu que as investigações deveriam iniciar no Detran — comandado por Sandro Rocha, irmão do governador. “Caiu de paraquedas vindo do Rio de Janeiro”, disparou.
O vice-governador Sérgio Gonçalves, que também ocupa atualmente o cargo de Secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado, tem adotado um tom mais firme nas últimas semanas. Além de se colocar publicamente como pré-candidato ao Governo em 2026, fez críticas diretas ao atual chefe da Casa Civil, Elias Rezende — aliado de primeira hora de Marcos Rocha —, o que reforça o clima de divisão dentro da estrutura do Executivo. Caso o afastamento político com o governador se consolide, o caminho natural seria sua exoneração da importante pasta que ainda comanda.
O que se desenha, agora, é um governo rachado, onde os antigos aliados seguem caminhos distintos. Rocha é cotado para disputar uma vaga ao Senado em 2026 e no atual cenário, tudo indica que deverá concluir seu mandato. Sérgio, se quiser disputar o Governo, precisará renunciar ao cargo até abril próximo — uma decisão que envolve risco político e cálculo de sobrevivência.
Entre viagens internacionais, projetos polêmicos, ataques internos e disputas antecipadas, Marcos Rocha retorna ao comando do Estado em meio a um cenário que exige bem mais que articulação política — exige gestão e controle de danos. Além da crise interna, o governador também precisa lidar com cobranças por obras não entregues, como o Hospital de Urgência e Emergência (HEURO), em Porto Velho, e o Hospital Regional de Ariquemes — este, inclusive, uma promessa de campanha que sequer saiu do papel. Porque, neste momento, o maior desafio não vem de fora. Está dentro de casa — e se acumula em diferentes frentes.